Uma reflexão sobre a escuta e a capacidade de ouvir

Em francês, escutar se diz “entendre”. “Ecouter” refere-se somente à capacidade física de ouvir. “Ouvi falar” diz-se “j´entendu parler”, ou seja, foi o que eu entendi que alguém supostamente disse, e não necessariamente o que ele disse.

Muito conflito poderia ser evitado pelo simples reconhecimento deste fato: o que o outro diz passa pelo meu filtro – o filtro de todas as experiências que vivi, da minha autoestima, das minhas crenças, das minhas interações com aquela pessoa. E isto dá todo um novo significado para o que foi “ouvido”.

Lembra-se quando brincávamos de “telefone sem fio”? Era uma boa representação deste processo: eu falo algo, que o outro entende de outra maneira, que uma terceira pessoa entende ainda mais distorcido.

É por isso que na Comunicação Não Violenta somos orientados a dizer que “quando ouço o que você diz me sinto desta ou daquela maneira” e não: “você me ofende ou me irrita”, já que na verdade aquela pessoa não tem o poder te irritar – este é um poder que pertence à você, e que você permite ou não que aquela irritação aconteça de acordo com o seu controle emocional, e não de acordo com o que escuta.

Escutar em Coaching

Em Coaching eu diria que metade do trabalho está no que chamamos de escuta ativa. Para a Federação Internacional de Coaching, a escuta ativa é “a chave para o mundo interno do cliente”. É escutar sem uma agenda, sem querer apresentar uma solução para o problema daquela pessoa, mas estar ali na posição de curioso. Como seria estar naquela posição, sentindo-se daquele jeito? Que perguntas posso fazer para ter acesso àquele mundo interno? Não é àtoa que esta é uma competência a ser examinada quando alguém está tentando obter uma credencial.

A audição na Antroposofia

A audição, para a Antroposofia, está ligada ao corpo espiritual. “Este sentido traz a possibilidade de ouvir os mais variados sons. Seus receptores localizam-se nos ouvidos e comunicam algo sobre a interioridade das coisas. Ao se ouvir uma música, pode-se “conhecer” alguma coisa da natureza íntima de seu compositor. E quando se ouve alguém dizer: “Ouça a voz do seu coração!”, certamente isto soa como algo muito profundo, relacionado a seu próprio eu.” (1)

A audição e as emoções

Para terminar, uma tabelinha publicada no livro “Você Pode Curar Sua Vida”, da Louise Hay, sobre a audição e suas razões emocionais, bem como as respectivas afirmações de cura:

Ouvidos
Representam a capacidade de ouvir.
Ouço com amor.

– dor
Raiva. Não está querendo ouvir. Tumulto demais. Pais discutindo.
A harmonia me cerca. Ouço com amor o que é prazeroso e bom. Sou um centro para o amor.

– surdez
Rejeição, teimosia, isolamento. O que não quer ouvir? Não me amole.
Ouço o que é divino e regozijo-me com tudo o que sou capaz de ouvir. Sou uno com tudo.

– zumbido
Recusa em ouvir. Não dá ouvidos à voz interior. Teimosia.
Confio no meu Eu Superior. Ouço com amor minha voz interior. Liberto tudo o que é diferente da ação do amor.

1 Relação Entre Cura e Religião à Luz da Antroposofia, por Maria do Carmo C. Vale