“Se não se considerar a franja extremista do feminismo, que quer acabar com os homens, este apresenta-se sob dois aspectos diferentes. A forma “masculina” do feminismo reivindica para as mulheres as mesmas oportunidades que para os homens. A forma “feminina” visa modificar a sociedade, incluindo o homem. ..Esta segunda forma representa, na minha perspectiva, uma liberação mais autêntica das mulheres e um progresso em relação à sociedade atual: ela permite às mulheres contribuir para a sociedade com os seus próprios valores.” – Geert Hofstede – antropólogo.

Não, não sou feminista. Não poderia nem começar uma conversa sobre isso, porque não tenho conhecimento suficiente sobre o assunto. Aliás, eu digo que sou o terror das feministas: a nova piada em casa é eu esperar meu marido com a cerveja aberta.

Falo aqui primeiro, como mulher, portanto conhecedora do que o Hofstede chamou de “valores” femininos: o cuidar, o acolher (útero). Mas, em especial, quero falar como ser humano; um ser que sente um incômodo cada vez que percebe nas discussões sobre o feminino uma sementinha de separação e exclusão.

Se o nosso grande objetivo é voltar ao estado de unidade, um estado que não conhecia conceitos de bom ou mal, certo ou errado, homem ou mulher, qualquer movimento feminino teria que, na minha opinião, incluir o homem. O nosso novo movimento deve falar de sororidade, de igualdade, mas deve, também, acolher o homem.

Falo isso porque acho que ao mesmo tempo em que o homem tem tido uma posição privilegiada na sociedade, está tão confuso quanto o seu papel quanto nós. Nós mulheres tivemos que adotar uma postura masculina para conquistar espaço. Quanto mais qualidades masculinas desenvolvemos (objetivo, metas, conquistas), mais perdidos os homens foram ficando. E agora que estamos resgatando nosso feminino, o que eles devem ser? Qual é o seu novo papel? Como ele deve se relacionar com essa mulher que está começando a reconhecer o seu poder?

Voltando para o texto de Hofstede, penso que essa é uma das grandes contribuições que podemos dar para a sociedade como mulheres: exercer a empatia e compaixão, acolhendo o homem de forma que ele possa ser dentro desse novo contexto e, como nós, aprenda (porque também estamos aprendendo) a acolher o seu feminino.

Na verdade, a cura reside no equilíbrio do masculino e feminino em cada um de nós, independente do sexo com o qual nos identificamos. E a verdade é que só podemos ajudar o outro a acolher estes dois aspectos quando isto está bem resolvido em nós mesmos.

Podemos restaurar este equilíbrio através de práticas meditativas, de práticas de cura, de terapias, o que importa primeiramente é reconhecer o quanto isto afeta todos os outros aspectos da nossa vida. Você têm ideias e não consegue concretizar? Talvez o seu masculino esteja desequilibrado. Muito confronto na relação? Talvez o seu feminino esteja precisando de atenção. Comece olhando pra isto.

O movimento de sororidade (união entre mulheres) não pode ser, ao mesmo tempo, um movimento de exclusão do homem porque isso, considerado do ponto de vista da unidade, é uma dicotomia.

Se considerarmos que o aspecto transcedental das relações é a interdependência, veremos que o outro é parte importante no caminho que nos levará a acessar o nosso pleno potencial como seres humanos.

Essa é uma discussão que está só começando. Há muito que aprender, mas que tal começarmos com um olhar mais compassivo? Sempre que o assunto for o feminino ou masculino, que nos perguntemos: “isso inclui, integra, ou exclui?” E aí saberemos por onde ir.

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Este texto foi publicado primeiro na minha coluna no site Eu Sem Fronteiras.