Em 2019 escrevi este texto falando sobre intuição e ego: como distinguir se a voz que está falando com você pertence a um ou a outro? 

Este é um dos meus artigos mais acessados, e acho que a razão para isto é que quanto mais as pessoas se aproximam do autoconhecimento, mais essa dúvida aparece, afinal, quem nunca se pegou questionando se aquele pensamento era um alerta ou uma autossabotagem? Resolvi, então, incluir neste artigo alguns ensinamentos que reuni no último ano sobre o assunto e que têm me ajudado imensamente a fazer esta distinção.

O que é o ego?

O ego tem a ver com o seu senso de eu: “eu”, “meu”, “comigo”, “para mim”, “sou assim”; é aquilo com o qual você se identifica (“meu prêmio”, “minha dor” etc).

Adyashanti, professor e autor americano, diz que o ego é um verbo, ele “acontece”. Além disso, está sempre negociando com a vida. 

A essência, por sua vez, está mais relacionada ao “ser” do que ao “fazer”, e à aceitação do que é. 

Ego também está relacionado com inconsciência: Eckhart Tolle faz essa distinção ao dizer que a partir do momento que nos apercebemos de um padrão do ego, o que temos é o “corpo de dor”. Talvez ainda ajamos de maneira condicionada (por exemplo, a pessoa que se acostumou a brigar ainda não consegue parar de fazê-lo), mas agora já nos damos conta de que aquilo é um condicionamento do ego.

Uma outra maneira de dizer isto foi colocada pela Del Mar Franco, quando afirma que o ego é formado por um conjunto de necessidades não atendidas, a partir das quais a pessoa passa a experienciar o mundo.

Além disto, o ego apresenta uma resposta reativa: tenta controlar e manipular a situação pelo drama.

Complicação x simplicidade

O ego complica as coisas; a essência simplifica. Na essência, há um estado de “não-resistência”, muitas vezes chamado de fluxo, ou flow. O ego está sempre resistindo ao que “é”, por medo de perder o seu senso de identidade.

Rick Jarow diz que o ego é como um porteiro que afasta coisas e pessoas. Consigo ver isso com facilidade quando, por exemplo, alguém me telefona. Se vou para o ego, penso que sou introvertida (meu senso de identidade) e prefiro ser deixada quieta. Se vou para o ser, exercito a compaixão e penso que nem tudo é sobre mim: aquela pessoa pode estar sentindo-se sozinha, precisando de um conselho, e está em meu poder contribuir para o bem dela (que no fim, acaba por ser o meu também). 

Externo x interno

O ego se prende à coisas externas para sentir-se seguro (Deepak Chopra): trabalho, título, status etc. Há ainda uma sensação de que sou “eu” contra o mundo.

A essência se sustenta em si mesma, no mundo interno: confiança (em si, no Universo, no futuro), independente do que se tenha ou do que esteja acontecendo lá fora. 

Ele diz ainda que a falta de confiança (ou esperança) e o medo são qualidades do ego, e baseiam-se no passado. A essência está sempre no presente.

Conquistas e desejos do ego x do ser

Quando você conquista algo que queria e continua insatisfeito, dá para reconhecer ali um desejo do ego.

Existem exceções, como a adaptação hedônica, quando a insatisfação se dá por um motivo evolutivo, conforme tratamos neste texto. Pense em Da Vinci, por exemplo: provavelmente ele não criava a próxima coisa por uma questão egóica, mas por uma necessidade maior que ele.

Glennon Doyle, no livro Untamed, diz: “Nossos desejos mais profundos são sábios, verdadeiros, belos, e coisas que podemos nos conceder sem abandonar o nosso Saber.”

Por que saber isto é importante?

Para funcionarmos no mundo, a autoestima é necessária. A verdadeira autoestima vem do reconhecimento do seu valor verdadeiro, e isto reside além do ego.

Outra razão seria a exposta no começo deste artigo: saber identificar respostas e situações favoráveis. 

Mas, saindo um pouco do nosso umbigo egóico, Del Mare diz que “um coletivo saudável depende de individuos que consigam transcender o ego”. Neste momento polarizado, a importância disto é imensa!

Uma última dica

Na parte I deste artigo, dei algumas dicas sobre como identificar a intuição através  do corpo ou da escrita, por exemplo.

Deixo aqui mais uma sugestão que pode ajudar, dada tanto pelo Tolle quanto pelo Chopra, que é assistir às coisas sem nomeá-las. 

Se um motorista passa por você um pouco distraído, e você nomeia aquilo como uma afronta, ou uma falta de respeito, foi feito um julgamento, que tem o peso de todas as suas vivências. Se é simplesmente um carro passando em alta velocidade (e mesmo assim a velocidade está sendo julgada), não é nada contra você – e seu senso de “eu”.

Tentei isto com a meditação também: se eu pensasse “a minha perna estava formigando”, sentia que tinha que fazer algo a respeito, como mudar de posição. Se eu dizia: “é só uma sensação”, como ensina Kim Eng, o formigar não me incomodava mais. 

Que nesta época de fim de ano, entendendo um pouco mais sobre os nossos egos, possamos controlá-los, na alegria de estarmos vivos! Obrigada à você que leu meus artigos durante este ano atípico, e feliz 2021!