A prática do silêncio (ou meditação) é benéfica para a saúde, para o seu crescimento pessoal e para as suas relações. Vamos falar sobre isso, mas antes vamos falar sobre várias objeções que as pessoas apresentam quando falamos sobre isso.

Não consigo ficar sem pensar nada

Meditar não é ficar sem pensar nada. Esta é uma confusão que muitas pessoas fazem. Meditar é ficar em silêncio, observando os pensamentos. Você senta e observa o fluxo dos pensamentos, como vão e vem, mas não desenvolve um raciocínio.

Pense nisso em como se você recebesse uma visita inesperada, alguém que não foi convidado: você recebe na porta, mas não convida para sentar. É isso que se faz durante a prática.

A ideia é que, aos poucos, você aprenda a fazer isto na vida real: reconhecer o pensamento como uma coisa que vem e vai, e não se fixar a ele. Quando alguém disser uma coisa desagradável, por exemplo, não tomar aquilo como pessoal (convidar para sentar), mas simplesmente deixar passar e seguir a vida.

Não é religião

A meditação, apesar de ser adotada por várias correntes espirituais, não tem a ver com religião.  Meditação é, como eu disse antes, sentar-se em silêncio.

Muitas religiões ocidentais tomam a meditação como base de prática porque ela vai permitir que nos livremos das ilusões. Quando nos sentamos em silêncio, observamos a nós mesmos, observamos como somos imperfeitos, como não conseguimos controlar nada, nem mesmo o que pensamos. Isso aos poucos vai nos deixando mais conscientes e também mais humildes, menos autocentrados.

Não tenho tempo ou lugar para meditar

Meditação não precisa durar meia hora. Dez minutos de prática já vão fazer a diferença. Se não tiver dez minutos, cinco já vão ajudar.

E você não precisa de um lugar silencioso para praticar: pode ser no ônibus, no metrô, no banheiro. O silêncio precisa, com o tempo, se manifestar dentro de você, não importa o que esteja acontecendo lá fora: o barulho da cidade, da casa, da mente.

A ideia é que você faça deste espaço interno um lugar de refúgio para onde possa ir quando as coisas estiverem atribuladas. A Bíblia fala da “paz que excede todo o pensamento”.  Se formos esperar o momento ideal, fica muito difícil. Precisamos criar este momento e este lugar.

Também é importante falar sobre autorresponsabilidade, no sentido de criarmos o tempo necessário para isso. Criamos tempo para as redes sociais, para as séries que gostamos, para tudo.  Aliás, muitas vezes recorremos a essas coisas justamente para acalmar o barulho da mente. Então porque, ao invés de tentar abafar o barulho da mente com mais barulho, não usarmos dez minutos para a prática do silêncio?

Não gosto de ficar parada

Li um post que falava sobre diferentes práticas de jejum: tem jejum intermitente, jejum só de chá, só de água, tem mono-alimento (ou seja, você não deixa de comer, mas come só um alimento durante alguns dias para desintoxicar – uma fruta, por exemplo), tem jejum de vários dias.

Com a meditação é a mesma coisa: há vários tipos. Você só precisa descobrir de qual gosta mais.

Meditação ativa: É uma meditação com movimentos repetitivos, cadenciados. O foco no corpo acalma o barulho da mente.

No meu canal no youtube tem um, mas há vários vídeos de professores de yoga que ensinam esse tipo de meditação.

Os indígenas usam muito a meditação ativa: meditam dançando em volta de uma fogueira.

Meditação na natureza: O cérebro está sempre em estado de alerta e checando se há alguma ameaça, se a pessoa à frente é amiga ou inimiga. Para isso, fica a maior parte do tempo no modo simpatético, que é o modo lutar / fugir / congelar. 

Quando andamos na natureza a mente entra no estado parassimpatético, porque lá nós não nos sentimos ameaçados. É um modo de descanso muito raro, e ele ajuda na digestão, ajuda a produzir os hormônios da felicidade, ajuda a criar. 

Se você não consegue sentar em silêncio, então ande em silêncio.

Meditação voltada para um objeto: acha difícil sentar e observar os pensamentos? Um jeito de fazer isto é se fixando num objeto. Normalmente este objeto é a respiração – prestar atenção no inspirar e no expirar. Mas também podemos prestar atenção num passarinho, nos barulhos, nos cheiros, no tilintar de um sino.

Goethe tinha um método de observação da natureza que não deixa de ser uma meditação: sente perto de uma árvore e a observe seus anéis, seus galhos, suas folhas, suas raízes. Como ela é no verão? Como ela é no inverno? Como ela estava ontem? Você pode desenhá-la?

Quais os benefícios da prática do silêncio na vida real?

Um deles já foi falado no primeiro parágrafo: deixar de se identificar com os pensamentos. Quando paramos de confundir nossa identidade com aquilo que pensamos, sofremos menos. Isso acontece porque também deixamos de achar que o mundo tem que ser dessa ou daquela forma, que isto é certo e aquilo é errado. Apenas aceitamos o que é e deixamos passar. 

Ficamos menos rígidos com relação à vida, e mais curiosos: por que senti isso? o que será que o levou a fazer isso? Ao invés de apontar: “ele me machucou, ele é isso, ele fez aquilo”.

Isso não significa ter uma atitude passiva diante da vida, mas sim uma de aceitação e de entrar mais no fluxo e menos no atrito. 

Outro benefício é o fato de que, no silêncio, abrimos espaço para o insight, para a inspiração.

Esta semana mesmo saí para uma caminhada depois de uma discussão. Saí com o intuito de ouvir um ensinamento budista no caminho, mas antes mesmo de conseguir ligar o áudio, pensei: “se eu só vou tirar tempo para ouvir os ensinamentos na dor, o Universo vai continuar me mandando dor para que eu possa estudar”. Bastou um minuto de silêncio para eu ouvir este ensinamento.

Também conto no meu livro “A Namorada do Dom” sobre o maravilhoso conselho de uma professora quando eu tive problemas de visto aqui na Suíça: “se você continuar procurando pela solução, não consegue ouvir a voz do seu Eu. Ele já sabe o que fazer, mas você não consegue ouvir porque não silencia.”

Resolvi fazer isto, a solução veio e foi muito melhor do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar como possibilidade.

Comece hoje! Celebre o silêncio.