Papaji, um dos devotos do mestre indiano Ramana Maharishi, conta a história de um mestre zen japonês que estava muito doente e viajou do Japão à India para visitá-lo, procurando a cura.
Ao chegar lá, primeiro teve que enfrentar os assistentes de Papaji dizendo-lhe que ele era muito ocupado e não poderia descer para vê-lo. O segundo obstáculo, quando conseguiu convencê-los, foi subir as escadas, já que ele tinha apenas um pulmão.
Papaji colocou-o sentado à sua frente, e então o mestre zen começou a rir. Não teve nenhum ensinamento, nada, ele só riu o tempo todo.
Quando voltou para sua casa e as pessoas perguntaram qual foi a lição que aprendeu com Papaji, ele dizia: “o ensinamento é apenas rir”.
Em sua entrevista para David Godman, Papaji explica que quando rimos não há “mente, não tem pensamento, não tem problema, não tem sofrimento.” E, para provar, pede à Godman que observe pessoas muito mentais: como normalmente estão sérias, não riem – “porque para cada problema, sofrimento, você precisa da mente. É a mente que sofre.”
O mestre zen japonês disse que sentiu que assim que começou a rir seu pulmão tinha sido curado. Mais que isso, sentiu que o pulmão tinha sido “substituído”.
Acho que um dos nossos grandes problemas é a falta de humor nas nossas vidas. Se você liga o streaming, as ofertas de séries de humor são infinitamente menores que as de drama. Aliás, estava observando um outro dia sobre como até as séries de humor, a um certo ponto viram dramáticas. E quando você está assistindo a algum filme em que tudo está bem, automaticamente fica esperando por algo ruim que vai acontecer. É como se achássemos que não existe o direito à felicidade.
No meio do autoconhecimento também vejo muito a falta de humor, pessoas levando as coisas muito a sério. Se você pensar nos grandes mestres budistas, ou Eckhart Tolle, por exemplo, estão sendo fazendo piadas. Há até uma imagem muito famosa do Buddha que ri! Isso me faz pensar que a falta de bom humor esteja ligada à ignorância, à falta de consciência.
Outro dia, tentando entender o conceito de vacuidade, pensei num sino tibetano. E então, veio a clareza: “se colocarmos sopa nele, não é mais um sino”. Pronto, comecei a rir. Onde há consciência, há riso.
Numa rara ocasião, durante uma discussão com o meu marido, pensei: “ele, como eu, está sofrendo”. Imediatamente, sorri. Se você tem um insight – o tal do “a-há moment”, como chamamos em Coaching, a primeira coisa que faz é sorrir.
Se há duas pessoas raivosas e uma delas começa a rir, pode ter certeza que a briga termina na hora. Às vezes faço o teste com meu marido: estamos no meio de uma discussão, um acusando o outro. Se ele me diz, por exemplo: “você é irracional”, respondo, como uma criança: “você é irracional primeiro”. Começamos a rir, vimos o quanto aquilo é ilusório e voltamos ao que é real.
Há até uma terapia do riso, criada pelo médico americano Hunter Doherty Adams, que é a base do trabalho dos Doutores da Alegria. Sua vida é retratada no filme Patch Adams, e a terapia foi criada porque ele viu como o bom humor tem efeito no tratamento de doentes.
Portanto, ria! Procure ficar atento ao que você consome como entretenimento. A mente é poderosa, mas não vê muita diferença em coisas que a gente assiste ou realidade.
Também lembre-se que mesmo no campo da espiritualidade, do autoconhecimento, há alegria! Que o nosso crescimento seja feito de forma leve e alegre. Ainda, que isto não seja tudo com que a gente se ocupe: vejo muitas pessoas deixando de encontrar os amigos, de participar de momentos importantes da vida de outras pessoas para fazerem mais um curso, mais uma terapia, sendo que muitas vezes a cura está em rir com os nossos semelhantes. Afinal, nos encarnamos para viver a experiência de aprendermos uns com os outros.
Que a gente dê mais importância ao milagre do riso.