Primeiro, vamos lembrar, como disse a filósofa Angela Davis, que não ser racista, neste momento da humanidade, não basta. Ter pensamentos de luz, também não. Falar que “somos todos um” neste momento é apenas uma desculpa para não encaramos a realidade e o privilégio.
Ser antirracista é ter uma atitude proativa no sentido de combater o racismo: é não se calar diante de uma atitude racista, por exemplo. É estudar sobre o assunto; é consumir conhecimento, serviços e produtos de pessoas negras. É observar se você mesmo não está perpetuando atitudes racistas, ainda que se declare não-racista. Aliás, quando você se declara não-racista no início de uma conversa sobre racismo, se fecha para aprender com o seu interlocutor.
E, para isto, como ser preocupado com a sua própria evolução e, talvez a de outras pessoas, eu quero te convidar para algumas reflexões.
1) Você está incomodado com o movimento negro?
Se você está há anos postando sobre evolução e autoconhecimento, não faz o menor sentido estar incomodado com o movimento negro.
Segundo a Antroposofia, num nível maior, de eras, passamos da era da alma da sensação para alma da razão, e agora estamos na alma da consciência. Por isso houve o boom de autoconhecimento há alguns anos, terapias alternativas, reconhecer que somos mais do que um corpo físico e de que tudo está interligado.
Portanto, é mais que natural que, na era da consciência, a raça negra acorde. É mais que natural que, na era da consciência, nos demos conta da nossa força. É mais que natural que, na era da consciência, a gente diga chega.
2) Pergunte-se: o que está te incomodando?
Se você têm falado sobre autoestima, sobre autoconfiança, e agora está achando ruim que os negros estão – finalmente – se amando mais do que querendo agradar ao seu grupo de pertença, pergunte-se: “o que nisto está me incomodando?”
Se você acredita sermos todos um, mas dá like quando uma pessoa branca fala sobre o que a incomoda, e pula o post quando uma pessoa negra fala sobre a dor dela;
Se você acredita em mantermos a energia elevada, e agora está estranhando porque nós negros resolvemos que não vamos mais deixar baixarem a nossa;
Se você falou sobre poder pessoal, chakra do poder pessoal, e agora está reclamando que o negro não quer mais ser vítima;
Se você que achou lindo quando a Brené Brown falou sobre ser vulnerável, e agora está reclamando que têm posts demais de pessoas falando sobre racismo; que as redes estão meio baixo astral;
Se você falou sobre constelação sistêmica, e agora não entende quando a gente fala que a dor dos nossos ancestrais é a nossa também, não importa qual seja a nossa condição atual;
Se você falou para terapeutas se apoiarem, pra mulheres se apoiarem, e esqueceu de incluir as mulheres negras na sua rodinha de apoio. Ou se você agora está achando ruim porque os negros resolveram se apoiar (“ué, mas isso não é racismo reverso??”),
repito: “o que, realmente, está te incomodando?”
Pergunte-se de verdade. Não caia na cilada de dizer coisas como “com violência não se consegue nada” ou algo genérico do tipo. Isto é algo externo. Faça, aqui também, seu trabalho de autoconhecimento.
Gostaria de relembrar que em cada época da humanidade houve um momento que estimulou a evolução. Num nível menor, muitas vezes, este salto para a evolução se fez com revolução: a Francesa, por exemplo, que as pessoas admiram tanto e que é tão engrandecida na escola. Ou o maio de 68 (aliás, falando nisto, por que será que o maio de 2020 te incomodou tanto?).
Negros quererem igualdade também faz parte do nosso processo de autoconhecimento e crescimento. Se você não está feliz com isto, é melhor checar se esteve mesmo do lado do amor e da evolução de todos os seres esse tempo todo.