Já falei anteriormente sobre alguns dos benefícios de olhar para a sua própria história de vida na maturidade.
A autoconfiança é gerada na infância. Se você não desenvolveu naquela época, tem que vir da própria história de vida.
Através da revisão biográfica, você pode redescobrir forças que usou em momentos difíceis da vida, bem como suas singularidades, aquilo que você tem e que nenhuma outra pessoa pode oferecer para o mundo.
Hoje, resolvi compartilhar com vocês o impacto que o trabalho biográfico teve na minha própria vida na prática.
“Amar é olhar juntos na mesma direção” (Saint-Exupéry)
No trabalho biográfico, há esta linha que considera os tempos presente, o passado (para ver como influencia os acontecimentos) e o futuro.
Logo na primeira sessão, para entender sobre o meu presente, fui questionada sobre o cotidiano com o meu marido. “Dá para saber muito sobre um casal olhando a rotina deles”.
Com o trabalho biográfico, aprendi que estávamos gastando muito tempo vendo TV à noite por estarmos sem um objetivo comum.
O tédio noturno acontece quando falta conteúdo entre o casal para sustentar a noite: é um tipo de “vazio espiritual”.
Com isso em mente, sugeri ao meu marido que saíssemos à noite. Ele propôs que fôssemos à pé para a vila, e então acabamos encontrando o nosso objetivo comum: nos movimentarmos e procurarmos nos integrar mais na vila onde moramos.
Agora, com o inverno se aproximando aqui na hemisfério norte, vamos ter que renovar o objetivo para se adaptar à neve, mas agora já sabemos de onde partir: talvez possamos receber mais em casa, ou fazer passeios mais culturais para onde possamos ir de carro ou coisas assim. Com um objetivo em mente, fica mais fácil ter motivação.
Que presente recebi dos meus pais?
No meu livro “A Namorada do Dom”, conto sobre os problemas que tive com a minha mãe. Ao fazer o trabalho biográfico, fui exortada à ver qual foi o presente que ela me deu, a herança que ela me deixou.
Minha mãe me ensinou a ler aos três anos de idade. Para a Antroposofia, estimular o intelecto da criança precocemente pode causar diversos problemas.
Ainda assim, este foi o grande legado que ela me deixou, por me permitir ter algo muito importante: autonomia (emancipação). A partir do meu amor pela leitura me dediquei muito seriamente aos estudos, aprendi outros dois idiomas e consegui, com isto, fazer a vida mais fácil que para os que vieram antes de mim.
O impacto da falta de família e de estabilidade na infância
O primeiro setênio é regido pelo tema: “O Mundo é Bom”. E o que faz o mundo ser bom para uma criança? O que chamamos de “processo quente”: um lar caloroso, carinho, comida no prato, os ritmos bem respeitados. Quando isto não acontece, temos algumas consequências na vida adulta.
No trabalho: Em todos os empregos que tive até os 37 anos, tentei compensar a minha falta de família. Sempre trabalhei em empresas muito pequenas, onde as linhas entre o pessoal e profissional eram tênues ou inexistentes.
É bom termos em mente algo muito importante: até os 28 anos, a influência do que aconteceu no passado é uma força positiva, ajuda, impulsiona. A partir daí, a influência do passado atrapalha: é hora de olharmos para a frente, para o futuro, para como podemos transformar o que recebemos e o que nos aconteceu.
No relacionamento: O primeiro vínculo de confiança que formamos é com pai e mãe. Com o abandono, omeu foi quebrado, e isto impacta todas as minhas relações.
Um dos livros que mais gosto se chama As Cinco Feridas Emocionais. Nele, Lise Borbeau fala sobre como cada um de nós traz uma ferida relativa à infância (não importa se ela foi boa ou ruim), e discorre sobre o impacto dela na forma como nos relacionamos.
A minha ferida, como falei acima, é a do abandono.
Portanto, percebi que o maior presente que meu marido me dá é a estabilidade: ele não ir embora, como fizeram meu pai e minha mãe, e também de morar na mesma casa por agora oito anos, sem o risco de ter que sair correndo dela amanhã.
Pode parecer pouco para alguém que lê, mas para mim, uma canceriana, é algo muito precioso e, depois da revisão biográfica, aprendi a apreciá-lo mais por isto.
Para você começar
Em breve publicaremos as partes II e III deste assunto. Enquanto isto, se você quer começar a olhar para a sua história, pode fazer isto de várias formas:
– Indico o livro “Vamos Falar Sobre a Vida?” da Edna Andrade, que foi minha aconselhadora biográfica. Nele você vai encontrar as perguntas que vão te guiar a observar a vida sob um aspecto mais amplo e inquisitivo.
– Se quiser um apoio para fazer a revisão da sua biografia, acesse a minha bio, do lado esquerdo deste post.