Li um artigo numa revista no aeroporto em que a autora dizia que olha as redes sociais pela manhã e pensa que a humanidade ainda tem jeito: são tantos posts sobre ser bom com o próximo, ser bom consigo mesmo, cooperar.
E então ela vai para o trânsito, e imediatamente sua fé é perdida. A pergunta que ela se fazia era: “essas pessoas são as mesmas que postam coisas bonitas no Facebook?”
Bom, Natal está próximo. Depois de um outubro tumultuado pelas eleições, é a nossa hora de colocar em prática tudo o que pregamos.
Ram Dass conta em um dos seus livros que ele viveu um tempo no monastério e quando voltou para casa parecia que tinha esquecido tudo. É, não está fácil pra ninguém, mas aqui vão algumas reflexões que tive nos últimos dias:
1) A família normalmente está ali para mostrar a nossa sombra, nos mostrar o que ainda precisa ser trabalhado. Eu, por exemplo, sei que preciso melhorar compaixão e generosidade: lembrar que estou fazendo aquilo não por mim, mas por outras pessoas para as quais aquele momento é importante. O que você acha que o Natal está querendo te mostrar?
Pode ser, inclusive, que o que você precisa trabalhar seja o dizer “não” e respeitar a sua vontade, se colocar em primeiro lugar.
2) Como eu sempre falo, a intenção e atenção contam muito. “Onde colocamos a atenção, é aquilo que vai crescer.” Portanto, se você for sair de casa já com o pensamento de: “este ano vai ser difícil porque vou ter que conviver com meu tio que votou em fulano”, a possibilidade de haver um desentendimento é grande.
Que tal mudar a perspectiva? Você talvez possa usar esta oportunidade para exercitar uma habilidade nova: a diplomacia, ou escutar sem julgar, ou a empatia.
Você pode, por exemplo, sugerir que não se fale sobre assuntos polêmicos e que a família use este evento para descobrir coisas novas. Você sabe se seu cunhado tem um sonho que deixou escondido no fundo da gaveta por achar que não é possível? Sabe se sua mãe deixou algum hobby lá na juventude depois que engravidou? Você sabe o suficiente sobre a sua árvore genealógica?
3) Se não for para abrir a boca para dizer algo gentil , edificante e amoroso, é melhor não dizer nada.
Esta é uma boa estratégia. A gente sempre acha que deve ser educado com os estranhos, com os colegas de trabalho, com os amigos, mas que a família e o cônjuge estão ali para ouvir o que quer que você queira dizer, da maneira que quiser fazê-lo. Simplesmente não faz o menor sentido!
Pergunte-se: “eu falaria assim com um estranho?” Se não, não fale assim com as pessoas que você ama (ou com aqueles que são importantes para quem você ama).
Os indígenas usam a expressão: “pôr as palavras para andar”. Dizem que quando você não faz o que fala, as palavras se enroscam em suas pernas, dificultando o seu caminhar. É um bom incentivo para fazer o que é certo – tenho certeza que todos nós queremos caminhar 2019 a passos largos e certeiros!
Um excelente 2019 de luz a todos, e gratidão a você que leu os meus artigos!