Aqui na Europa tem uma cia aérea de baixo custo chamada Easyjet. Na revista de bordo tem tem uma coluna muito legal chamada “My Greatest Mistake” (ou Meu Maior Erro), em que empresários contam qual foi o maior erro que cometeram no seu negócio.

Em uma das edições, um empresário diz que perdeu um contrato milionário de vendas de água de côco para a Europa porque não se informou sobre a legislação para fazer a embalagem, minimizando a importância de alguns itens obrigatórios. Demorou vários anos pra ele conseguir ter outra oportunidade de entrar na Europa de novo – felizmente, eventualmente ele conseguiu.

Outra revista contra sobre um empresário que tinha um restaurante que funcionava sem reservas. Quando abriu outro, em outra parte da cidade, usou o mesmo princípio, só que neste lugar as pessoas iam embora e nunca mais voltavam, porque nunca tinham certeza se iam conseguir uma mesa. A solução foi deixar metade das mesas com reserva, e metade sem, assim ele conseguia atender as necessidades dos dois públicos. E a lição pra ele foi que não dá pra pensar que uma regra vai sempre servir para tudo que você faz.

Com base nisto, vou compartilhar cinco erros que cometi na minha trajetória, e como eu (e você) poderia tê-los evitado. Eu só descobri esses erros trabalhando a minha biografia – caso contrário, acabaria entrando no engano de  a que as coisas são sobre sorte ou azar, quando na verdade são coisas que poderiam ter sido melhor manejadas. 

Se você está na fase da maturidade, é importante que revise a sua biografia para poder entender melhor porque agiu como agiu, e como isto está afetando a pessoa que você é hoje.

  1. Tomar decisões emocionais

Posso dizer que na minha vida tive algumas boas chances na carreira. Eu entrava numa empresa e logo era promovida, porque tinha uma senso de responsabilidade e principalmente de liderança grandes. Acaba acontecendo que com dois, três meses as pessoas já estavam me colocando pra ser responsável por alguma coisa, ou pagando cursos pra eu me especializar em algo. 

No meu primeiro emprego em São Paulo, por exemplo, pude fazer várias formações em programação porque demonstrei curiosidade na área de informática. Já no segundo emprego fiz formações em Direito Internacional, entre outros. 

Porém, quando acontecia alguma coisa, algum problema de relacionamento, não importava quantos anos de empresa, eu me demitia. Ao invés de separar o emocional do racional, eu colocava tudo num balaio só – um problema emocional, impactava a minha carreira.

Quando falamos dos setênios ou ciclos de sete anos, a partir dos 28 anos o Eu tem que fazer o pensar, o sentir e a vontade trabalharem juntos. Não dá para deixar o sentimento comandar. O Eu, que está mais maduro, tem que ser a autoridade. 

Então um dos exercícios que aprendi quando trabalhei a minha biografia foi fazer uma lista das decisões que eu tomei, e ver qual a qualidade delas: foram tomadas por uma questão de sobrevivência? por um impulso irracional? pra atender uma necessidade de carência – por exemplo, a falta que eu senti de pai e mãe?

Só se pode transformar a sua biografia, o seu destino, se você compreendê-los. 

  • Procurar no trabalho o preenchimento de uma carência de lar

Novamente, misturei uma área da vida com outra que não tinha nada a ver.

Eu tive pais separados e mudei muito de casa. Então por muito tempo fiquei procurando a sensação de lar, de família, a estabilidade dentro da empresa.

Hoje vejo, por exemplo, que o meu histórico de trabalhar em empresas pequenas não foi uma coincidência, e sim um padrão. Se prestar atenção, chamamos uma empresa pequena de “empresa familiar”. 

Nessas companhias havia os mesmos dramas que há em uma família: as paixões, as brigas etc. Tudo era muito voltado para simpatias e antipatias.

Esse padrão hoje impactou meu trabalho, já que, por não ter tido essa vivência de trabalhar numa grande corporação, tenho uma carência que me impede de trabalhar com coaching executivo.

Meu conselho é: se você está na primeira metade da vida e vê essa tendência na sua biografia, ainda está em tempo de corrigir esse curso e procurar outras vivências que expandam mais a sua experiência e o seu olhar.

E, se está na segunda metade, que faça uma revisão do seu histórico profissional e veja o que o permeava. Então, primeiro, analise se isso ainda tem impacto na sua vida. No meu caso, além do que eu falei acima, posso checar se na minha vida profissional ou no meu casamento ainda estou tentando suprir essa carência. Depois, coloque luz e consciência naquilo para poder corrigir o curso.

Além disso, procure usar o que aconteceu a seu favor. Você pode pensar, por exemplo, que qualidades criou a partir disso? Ou o que pode criar a partir disso? A partir desta reflexão você começa a dar propósito pra aquilo que aconteceu na sua vida.

  • Deixar passar oportunidades por ter o olhar fixo num objetivo

Como coach, acredito que ter um objetivo é algo maravilhoso: dá motivação, disciplina, foco. 

Porém, temos que tomar cuidado pra que esse foco não se transforme em rigidez, ou em controle. Às vezes focamos tanto em uma coisa que acabamos perdendo o fluxo da vida, aquilo que está acontecendo naturalmente, sem que precise moscolocar esforço.

Recentemente me dei conta de algo assim: tenho um grupo fechado no Facebook chamado “Cura de Amor”. Ter um grupo fechado é diferente de postar coisas para pessoas aleatórias na internet, onde alguns vão ler e não ser tocados pelo seu conteúdo. Num grupo fechado, as pessoas estão ali por vontade própria, escolheram estar ali e querem ouvir o que você tem a dizer.

Neste grupo, nunca precisava fazer muito: toda vez que eu entrava na rede social, tinha alguém pedindo autorização pra entrar no grupo.

Só que eu estava tão focada no Instagram, em aumentar meu engajamento lá, que não valorizei o que estava acontecendo organicamente. E fiquei só sentindo a dor de que “o instagram era tão difícil, não entregava meus posts etc”.

Então a dica que eu quero te dar é: olhe à sua volta. O que está funcionando no fluxo, sem que você precise fazer tanto esforço? E vai por aí.

Por exemplo: coisas que as pessoas te pedem toda hora pra fazer, ou coisas que você sente que faria de graça. Então porque escolher sofrer, se você pode investir no que já está recebendo sinais pra fazer?

  • Reverenciar a autoridade errada 

No 2º. setênio, ou seja, dos 7-14, dizemos que o tema é “O Mundo é Belo”. É a época que a criança entra na escola, e é muito importante a figura da autoridade amada – que normalmente é a professora, mas pode ser também uma tia, uma outra pessoa. No caso da professora, ela vai usar a arte, os contos de fada, para mostrar à criança que o mundo é belo.

Quando essa autoridade falta na infância, você a procura em outras fases da vida. 

Eu tenho essa brincadeira na minha biografia de que eu queria ter tido uma governanta alemã, que seria uma pessoa que tivesse me guiado nos estudos: o que ler, arte etc, uma educação intelectual mais refinada.

E conto no meu livro “A Namorada do Dom” a história do Fernando. Fernando era uma pessoa intelectualmente interessante, mas que se sentia muito superior ao mundinho normal e não trabalhava. Começou a nos relacionar e eu fiquei ali trabalhando pelos dois, me endividei, tudo em troca de beber daquela fonte, de ter essa educação que eu não tive. Comecei a reverenciar a autoridade errada. E também não deixei que o Eu,  a autoridade própria daquele setênio, fizesse seu papel.

Eu paguei isso com a minha autoestima, com perdas de noite de sono, com a perda da minha alegria, já ele tinha uma personalidade sombria.

Demorou uns dois anos mas eu tive pessoas que me alertaram, que me ajudaram a sair daquele situação. Quando você está vivendo algo assim, e está com a autoestima baixa, com carência de sono etc, entra no que é chamado de túnel – você foca numa coisa só, não consegue enxergar o quadro todo. 

Quando você está no tunel, só sai dele com um agente externo. Então, se você está nessa situação de tunel, de reverenciar a autoridade errada, peça ajuda e ouça os conselhos.

E se você está de fora, não desista das pessoas. Tenha compaixão. Compaixão é querer que o outro fique livre do sofrimento, e das causas do sofrimento. Não pense que as pessoas não querem ser ajudadas. Às vezes ela nem sabe por onde começar; não tem mais força. Ofereça sua sabedoria, a sabedoria de quem já viveu muito e de quem está fora do túnel.

  • Não ter tido um(a) mentor(a)

Este é uma falha grande na minha biografia: não ter tido alguém que me guiasse nas minhas escolhas.

Já escrevi sobre a questão dos mais jovens trabalharem com os mais maduros, como os ideias dos jovens, quando unidos ao idealismo maduro podem trazer mais frutos.

O que acontece hoje, é que muitas vezes seus pais não tiveram educação, ou não falam a mesma linguagem que você, e não podem te orientar, principalmente na carreira. As empresas, por sua vez, insistem em mandar os maduros embora, e segurar só talento jovem. Ou o chefe mais velho acha que sabe tudo e entra na posição só de mandar ao invés de trocar. Isso cria um distanciamento entre a experiência dos maduros e a energia criativa do jovem, que precisa ser posta em movimento, mas também precisa ser orientada pra que possa haver uma conexão entre o pensar do jovem e a vontade.

Na minha vida tomei muitas decisões erradas, principalmente no sentido de não terminar o que comecei. Deixei a faculdade de Direito pra trás, que era algo que tinha talento pra seguir. Faltou alguém pra dizer: “se você fizer assim dá pra continuar”, ou “não vai deixar faculdade por este motivo”. 

Muitas habilidades que tenho agora, como falar inglês e francês, ou mesmo o meu diploma, eu consegui tarde na vida, com mais maturidade e suporte.

O meu conselho, se você está na primeira metade da vida é: arrume um mentor. Pode ser uma pessoa da sua empresa, seu próprio chefe, o chefe de outra departamento, alguém que você admire. Muitas pessoas fazem isso até como trabalho voluntário, e tem muito prazer em ajudar outros.

E, se você está na segunda metade da vida, considere ser mentor de alguém. Você pode ajudar uma pessoa cujos pais não receberam educação, e guiar aquela pessoa nas escolhas dela. Pode pegar alguém que trabalhe na mesma área que você trabalhou, e ajudar. E, com o tempo, pode até fazer disso uma nova profissão, por que não?

Isso é uma das melhores coisas que você pode fazer na sua maturidade: passar o bastão; ajudar que essa nova geração possa se manter no futuro da melhor forma.